Federação dos Bombeiros de Leiria alerta para as “repercussões brutais” do custo dos combustíveis
Escrito por 97fm Rádio Clube de Pombal em 2022-03-30
A Federação espera que a próxima directiva financeira do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais tenha em consideração o actual preço dos combustíveis
A Federação dos Bombeiros do Distrito de Leiria alerta para as “repercussões brutais” do aumento do custo dos combustíveis nas corporações e exigiu medidas urgentes, sobretudo a actualização das comparticipações do Serviço Nacional de Saúde para transportar doentes.
Numa moção aprovada por unanimidade na segunda-feira, em assembleia geral realizada na Maceira, Leiria, e enviada à agência Lusa, a Federação, que representa 25 corpos de bombeiros, referiu que “o preço do quilómetro pago pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) não é actualizado” desde 2012, então fixado em 0,51 euros/quilómetro.
Nesse ano, o preço do gasóleo era de 1,499 euros/litro, sendo hoje de 2,18 euros/litro, “representando um acréscimo de mais de 45%”, lê-se na moção. “O salário mínimo nacional em 2012 era de 485 euros, sendo hoje de 705 euros, ou seja, mais de 45% de aumento”, notou a Federação.
Assinalando que nos dois últimos anos, em que o país foi assolado pela pandemia de covid-19, “não houve qualquer diferenciação positiva por parte do Governo, no sentido de minimizar o seu impacto na vida das associações”, o documento sustenta que tal desconsidera, “de forma inaceitável, a nobre missão que, diariamente, chega a casa de milhares de portugueses”.
Por outro lado, aponta “a falta de respeito e de boas práticas de gestão, evidenciadas pelas diversas entidades públicas” com que as corporações se relacionam, “como se comprova pelo atraso na regularização dos pagamentos, que chegam a atingir mais de 120 dias”.
Lembrando que, até ao momento, “ainda não são conhecidas quaisquer medidas de apoio às associações humanitárias no sentido de mitigar esta situação crítica”, a moção observa que estas associações “empregam milhares de pessoas, devendo garantir as suas responsabilidades salariais todos os meses”.
“A não existirem medidas compensatórias para este momento crítico, altamente influenciado pela situação de Guerra na Ucrânia”, haverá, no curto prazo, muitas corporações “a ponderar suspender a sua actividade de transporte de doentes, com as consequências gravosas para tanta gente que recorre aos bombeiros”, adianta.
A Federação, que espera que a próxima directiva financeira do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais tenha em consideração o actual preço dos combustíveis, manifestou o apoio ao Conselho Directivo da Liga dos Bombeiros Portugueses “na decisão de continuar, com carácter de urgência, as negociações com o Governo”, para “minimizar esta situação aflitiva”.
Exigindo “medidas urgentes, designadamente a actualização das comparticipações do SNS para o transporte de doentes”, e “a regularização dos pagamentos mensais, em tempo, às associações humanitárias” por parte das entidades públicas, a moção manifesta ao Conselho Executivo da Liga total solidariedade e apoio “a eventuais medidas a tomar, no sentido de garantir a justiça devida para com os bombeiros”.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Leiria, Rui Rocha, salientou que é de “grande preocupação” e de “grande incerteza” a capacidade que “algumas associações possam vir a ter no futuro para continuar a prestar um conjunto de serviços face às tendências a que se vão assistindo nestas últimas semanas”.
“Se se mantiver durante muito tempo esta tendência [aumento do preço dos combustíveis], estou certo de que haverá associações que vão, com certeza, até ponderar manter esta actividade de transporte de doentes, porque de facto ela poder-se-á rapidamente tornar deficitária e isso não é bom”, avisou Rui Rocha.
Considerando que é bom ouvir-se “dos governantes palavras simpáticas sobre aquilo que é o papel dos bombeiros e das bombeiras em Portugal e deste enorme e importante movimento no país”, o dirigente realçou que também era importante que se reconhecesse que as corporações, que prestam serviços de emergência, estão “agora numa situação” preocupante.